Hoje na auto-estrada, a caminho do Algarve, parei mais o meu irmão e a S. para almoçar, num MacDonalds de uma estação de serviço. À entrada, reparámos num senhor de meia idade, com um ar muito "estragado" e muito mal vestido. Estava a pedir esmola, de um lado para o outro, mas via-se que caminhava lentamente e que as forças não eram muitas. Tinha uma pele suja e marcada pelo tempo, e um cabelo e barba compridos, que há muito não viam uma tesoura. A sua roupa estava rasgada, e tinha um péssimo ar.
Enquanto estacionávamos, reparámos que as pessoas passavam por ele e fingiam não o ver. Era um sem-abrigo, que horror! Ele falava com eles, baixinho, pedia uma moeda para poder comer, mas as pessoas não queriam saber. Queriam elas, sim, ir comer.
Demos-lhe umas moedas e ele agradeceu. Pensámos que íamos almoçar em paz, rapidamente, para prosseguirmos para Faro. Mas, depois de pedirmos, sentámo-nos com hamburgueres e batatas e molhos e bebidas, e vimos, através da parede envidraçada, que o senhor lá continuava, cada vez com menos força para andar, ignorado por quem passava. E mesmo quando a chuva caiu com força ele não saiu de baixo dela. Pudera, a fome era muita.
E foi então que não conseguimos almoçar descansados, pois os três almoçamos a olhar para ele. Mas o impressionante é que o resto das pessoas não o viam, ou preferiram não ver. Almoçaram felizes e deitaram os restos para o lixo. Os restos iam ser o almoço dele, que ele ia tirar a um caixote.
No final do meu almoço, comprei ao senhor o maior hamburguer de que me lembrei e uma garrafa de água. E dei-lhe. E ele ficou extremamente feliz e comeu, na mesa ao lado das pessoas que fingem não o ver. E eu chorei, porque não me custa nada dar um almoço a quem se via que não comia há dias.
Conto-vos isto não para me gabar porque a melhor recompensa tive a vê-lo finalmente a comer. Mas para que saibam que não custa nada ajudarmos os outros, de vez em quando. Sairmos do nosso mundinho em que os problemas não são verdadeiramente problemas e ajudarmos aqueles que não têm nada, só problemas.
Pensem nisso.