20 de abril de 2008

Diferença de mundos

Hoje na auto-estrada, a caminho do Algarve, parei mais o meu irmão e a S. para almoçar, num MacDonalds de uma estação de serviço. À entrada, reparámos num senhor de meia idade, com um ar muito "estragado" e muito mal vestido. Estava a pedir esmola, de um lado para o outro, mas via-se que caminhava lentamente e que as forças não eram muitas. Tinha uma pele suja e marcada pelo tempo, e um cabelo e barba compridos, que há muito não viam uma tesoura. A sua roupa estava rasgada, e tinha um péssimo ar.

Enquanto estacionávamos, reparámos que as pessoas passavam por ele e fingiam não o ver. Era um sem-abrigo, que horror! Ele falava com eles, baixinho, pedia uma moeda para poder comer, mas as pessoas não queriam saber. Queriam elas, sim, ir comer.

Demos-lhe umas moedas e ele agradeceu. Pensámos que íamos almoçar em paz, rapidamente, para prosseguirmos para Faro. Mas, depois de pedirmos, sentámo-nos com hamburgueres e batatas e molhos e bebidas, e vimos, através da parede envidraçada, que o senhor lá continuava, cada vez com menos força para andar, ignorado por quem passava. E mesmo quando a chuva caiu com força ele não saiu de baixo dela. Pudera, a fome era muita.

E foi então que não conseguimos almoçar descansados, pois os três almoçamos a olhar para ele. Mas o impressionante é que o resto das pessoas não o viam, ou preferiram não ver. Almoçaram felizes e deitaram os restos para o lixo. Os restos iam ser o almoço dele, que ele ia tirar a um caixote.

No final do meu almoço, comprei ao senhor o maior hamburguer de que me lembrei e uma garrafa de água. E dei-lhe. E ele ficou extremamente feliz e comeu, na mesa ao lado das pessoas que fingem não o ver. E eu chorei, porque não me custa nada dar um almoço a quem se via que não comia há dias.

Conto-vos isto não para me gabar porque a melhor recompensa tive a vê-lo finalmente a comer. Mas para que saibam que não custa nada ajudarmos os outros, de vez em quando. Sairmos do nosso mundinho em que os problemas não são verdadeiramente problemas e ajudarmos aqueles que não têm nada, só problemas.

Pensem nisso.

3 comentários:

Jedi Master Atomic disse...

É muito boa a sensação de DAR.

Tenho uma história desse género que te posso contar. Aconteceu dentro do metro de lisboa. Um sem-abrigo pediu-me dinheiro para comer, mas eu não lhe dei. Eu sou contra dar dinheiro, mas ofereci-lhe comida.

A certa altura percebi o desespero dele porque ele mostrou-me uma seringa e disse que se recusava a assaltar pessoas embora o pudesse fazer. Eu disse-lhe para ele guardar aquilo porque não me assustava e que se quisesse comida, teria que vir commigo até à estação do campo grande aos cafés. E assim foi.

DAR é uma sensação muito boa. Temos é que ter um bocado de cuidado dentro da cidade !!

Dry-Martini disse...

Ainda bem que conta a história para contagiar os menos atentos esse é também uma das suas causas: falar-se tão pouco delas.

Parabéns pela atitude. Ás vezes é tão mais fácil ficar indiferente

XinXin

Ana A. disse...

Minha querida, se há coisa que aprendi nestes anos é que somos todos feitos da mesma matéria.
Ninguém escolhe onde nasce.
No entanto, a maior parte dos beneficiados pela vida prefere fingir que não vê e sentir-se legimitado a fazê-lo.
Se a coisa que nunca se deve esquecer, é que todos somos seres humanos. Acima de tudo!
Somos todos o mesmo, apenas temos nuances de diferença.