23 de maio de 2007

Direito a morrer com dignidade

É assim que muitos doentes crónicos se referem à eutanásia. A propósito de um trabalho para a faculdade, descobri muito sobre a eutanásia que desconhecia, li histórias reais, arrepiei-me, senti um pouco da dor das familias e dos pacientes.

Define-se a eutanásia como um procedimento que antecipa a morte de um doente incurável, para lhe evitar o prolongamento do sofrimento e da dor. Existem dois tipos de eutanásia: a activa e a passiva. A activa é negociada entre o doente e o médico, enquanto que na passiva a morte não é imediatamente provocada, mas são interrompidos todos os cuidados médicos e quaisquer medicamentos, o que leva à morte do paciente.

Ramon Sampedro, um conhecido espanhol que lutou incessantemente pela eutanásia, pôs fim à sua vida em 1998, após ter estado tetraplégico durante 29 anos. Planejou a sua morte com os amigos cautelosamente, de forma a que nao se pudesse incriminar quem o ajudou. A amiga que o encontrou morto foi incriminada pela policia, mas foi gerado um movimento mundial de milhares de pessoas que "confessavam" ter ajudado Ramon, pelo que esta foi ilibada.

James Haig, um britânico também tetraplégico, pôs fim à sua vida pegando fogo a si próprio, já que não lhe foi permitida a eutanásia.

Independentemente da forma de Eutanásia praticada, seja ela legalizada ou não, é considerada como um assunto controverso. No nosso país, por exemplo, não é muito bem aceite, devido a toda uma crença (na minha opinião exagerada) nos ideias da Igreja.

Arrepiei.me, e muito, a ler excertos do livro "Cartas desde el infierno", escrito pelo espanhol que apenas quis parar de sofrer e ter uma morte digna. Tem-me incomodado o sono e arrepia-me só de pensar o sofrimento que devem passar, sem terem direito a parar de sofrer. Após toda esta pesquisa acredito que cada pessoa tem direito a decidir se quer ou não viver preso a uma cama para o resto da vida, muitas vezes num sofrimento extremo. São muitas vezes "cérebros vivos em corpos mortos" (palavras de Ramón Sampedro), dizem que perdem toda a dignidade e que são um peso para a familia. Eu acredito. Poucas coisas devem ser piores do que saber que se vai viver num profundo sofrimento, imóvel até à morte. Estar-se morto antes da morte.


Não sei se seria capaz de decidir a eutanásia por um familiar meu que estivesse em coma vegetativo, mas acredito que cada um de nós deve decidir até que ponto a sua vida faz sentido, até que ponto é ou não digno para si mesmo, viver.


(Ramón Sampedro, a minha homenagem)

27 comentários:

Ana A. disse...

Eu acho que temos de ter liberdade de escolha sempre.
A nossa escolha!
Belíssimo post. Claro, conciso, incisivo.

teorias disse...

Gostei da tua reflexão... em certas situações concordo com a eutanásia... mas sim... é um tema extremamente controverso e difícil... mas uma coisa me parece clara... todos temos o direito de morrer com dignidade.

Espero que não te importes que volte cá meis vezes... gostei do espaço

o alquimista disse...

Os teus pés são navegantes na espuma, o teu cabelo dança em descuidada ironia, suave viagem de ondulante onda em tua boca, duas sílabas sopradas em mágica melodia.

Mágico beijo

n disse...

O que é uma morte digna? E indigna?
Como é que se morre sem dignidade?

Eu diria antes que todos temos o direito a VIVER com dignidade e há que fazer por isso, quanto a mim não passa por matar.

É indigno sofrer? (então mais vale matarmo-nos todos já)
Quando é que o sofrimento começa a ser indigno? Qual é a fronteira?


A morte não é um direito. Quanto muito poderá ser o fruto do (quanto a mim mau) uso da nossa liberdade.
TODOS temos, em alguma medida, limitações naturais à nossa liberdade, já se sabe, não fazemos reivindicações por causa disso.
Estando uma pessoa em grande sofrimento é ÓBVIO que possa querer morrer. Mas terá a pessoa liberdade para desejar outra coisa? Com que liberdade faz a pessoa essa escolha?
Escolher morrer significa que se está com uma grande falta de liberdade e não que se ganha a liberdade necessária (a que permitisse, por exemplo, fazer uma outra escolha). É uma fuga altamente condicionada, tal como o reflexo condicionado do cão de Pavlov. Não chamamos liberdade humana a um comportamento instintivo animal, pois não?

As condições de liberdade para mim existem quando uma pessoa se sente bem, nada a pressiona. Aí sim a pessoa pode escolher com mais, ou alguma liberdade. Em sofrimento e desespero nunca.


Há que apontar para o ideal e mais humano e para mim o ideal e mais humano é dar o maior apoio possível para que se possa VIVER com dignidade. Não é ir pelo caminho mais fácil, rápido e, já agora, barato.

A maior parte dos animais tendem a matar ou suicidar-se em situações de grande stress (fome ou pouco espaço) e antes de mais pertencemos ao reino animal. Por isso não condeno. No entanto prefiro uma solução humana, capaz de transcender o que temos de instinto animal.

bjs

iinês disse...

N, é exactamente por tu teres a tua opinião, tão distinta da minha, que acredito que o debate deveria ser feito em Portugal, para que se pudesse referendar o assunto.

E é tambem por termos opiniões tão distintas, e outras tão variadas, que sou a favor da eutanásia: para que cada um siga a sua vida da forma que a vê, segundo o que acredita, e não no que os outros decidem por ele.

***

Alice disse...

eu também estou de acordo com a eutanásia. Quando alguém escolhe acabar com a vida de certo que ja pensou muito sobre isso, não é um acto em que uma pessoa acorde e diga: "eh la bora morrer hoje".
se há aqueles que decidem continuar vivos, optimo, é a escolha deles mas a escolha dos outros também deve ser ouvida, eu acho que isso é que é liberdade, cada um poder seguir a sua vontade.

Alice disse...

eu também estou de acordo com a eutanásia. Quando alguém escolhe acabar com a vida de certo que ja pensou muito sobre isso, não é um acto em que uma pessoa acorde e diga: "eh la bora morrer hoje".
se há aqueles que decidem continuar vivos, optimo, é a escolha deles mas a escolha dos outros também deve ser ouvida, eu acho que isso é que é liberdade, cada um poder seguir a sua vontade.

Anónimo disse...

vejo que dedicás te um pouco do teu tempo a ler o livro e fico feliz por isso. Acho que muita gente deveria lê lo, é acima de tudo um manual de defesa dos direitos humanos: o direito a nascer, o direito a morrer, o direito a nao sofrer, o direito de escrever o seu próprio destino. Porque nao faz sentido viver num inferno quando temos outras alternativas...ao Estado que se diz de Direito cabe apenas aceitar a liberdade de escolha.
p.s- se quiseres tenho o dvd(Mar adentro) inspirado no livro ;)

Bjinho***

Pedro de Payalvo disse...

A cada um sabe de si, e chateia-me que digam que quando alguém decide morrer que está a ser egoista... porque não pensa em quem deixa cá, no mundo dos vivos... eu acho que é exactamente o contrário, quem cá fica é que é egoista, pelas razões inversas...
Há muitas razões para deixar a vida para trás, pode ser por uma profunda tristeza, por estar preso a uma cama, tetraplégico, estado vegetativo, ou outra qualquer... eu entendo-as todas, podem, em certos casos, ser decisões precipitadas, mas é uma escolha de cada um, e as nossas escolhas são a nossa liberdade... a nossa vida é nossa e sejam as nossas escolhas certas ou erradas, têm de ser sempre as nossas escolhas...

n disse...

Inês:

"...para que cada um siga a sua vida..." Sim, mesmo com muito sofrimento, darei todo o meu apoio. (estás a ver que até estamos de acordo? :) )
E, se estiver ao meu alcance, farei o meu melhor para minorar esse sofrimento.
Nunca hei-de apoiar alguém que queira seguir a sua morte.


Quanto às escolhas:

Não é a escolha em si que me dá a liberdade. Se assim fosse poderíamos dizer que uma vítima de assalto, a quem é dito com uma faca ou pistola apontada “o dinheiro ou a vida”, seria nesse momento uma pessoa livre.
O facto de eu poder escolher não significa que seja livre.

E, se repararmos bem, a maior parte (ou a melhor parte) das coisas que cada pessoa tem na sua vida, aquilo que mais e melhor a identifica (a sua vida, a sua família, os seus vizinhos, o seu clube, a sua cultura, o seu país, o mundo e o universo, a vida), não foi ela que escolheu. Não considero isso falta de liberdade ou que, por causa disso, tenha menos dignidade.
Portanto o facto de não poder escolher também não é falta de liberdade.


A liberdade é muito mais uma forma de ESTAR ou de SER do que um objecto do qual nos possamos apropriar. Não se pode TER ou POSSUIR liberdade.

Uma pessoa tetraplégica, ou uma pessoa em estado vegetativo, ou qualquer outra pessoa fisicamente muito condicionada, não tem de facto liberdade de escolha em relação à sua condição (como nunca teve na sua vida, nem ninguém tem).
Contudo É livre de lidar com isso da forma que entender. Se ESTIVER com muita liberdade, muito desprendimento, (o que percebo que seja mesmo difícil - inclusive imagino que numa situação dessas o meu desejo será de morrer), poderá escolher viver, seja de que forma for. Isso para mim é de uma dignidade e coragem imensa, à qual eu só posso aspirar.

Lá porque alguém exerce um acto sobre mim, a meu pedido, não é um exercício da minha liberdade, mas da liberdade desse alguém.


Bjs

Ahh só mais uma coisinha. Debates sim, mas não acho que a razão para fazer referendos seja a mera existência de diferença de opiniões, assim teria que haver milhares de referendos, eheh.
E "cada pessoa poder ter a sua opinião" não está em causa (não pode estar, porque não se consegue condicionar o pensamento de ninguém). O facto de a opinião ser minha (ou tua), portanto pessoal, também não impede que possa ser boa para mais pessoas, nem impede que seja A correcta.
Obviamente, ainda que eu esteja correcto (ou acredite nisso), em relação a alguma coisa que se passe na sociedade, e esta, na sua maioria, pense que estou incorrecto, prefiro uma sociedade em que MUITOS possam escolher UMA coisa (mesmo que às vezes mal) do que um regime em que UM possa escolher MUITAS coisas (mesmo que muitas vezes bem).
Se estiver sozinho, ou for minoria, e tiver a convicção que há um caminho melhor, resta-me a responsabilidade de dar testemunho desse caminho, provar que é de facto melhor.

n disse...

Ninguém me pode dar liberdade se eu, antes, já não a viver interiormente.

***

Pedro de Payalvo disse...

peço desculpa à Iinês por estar a responder ao "n" no blog dela...

ao "n": quando falei em liberdade, não foi no sentido das minhas escolhas me darem a liberdade, foi no sentido de ter a liberdade de escolher, esteja eu onde estiver e em que circunstâncias forem... é claro que se estiver preso não estou em liberdade, mas posso por exemplo ter a liberdade de escolher um livro ao meu gosto na biblioteca da prisão... por isso, ou não entendeste o que eu quis dizer, quando digo que as nossas escolhas são a nossa liberdade, entre as linhas: umas das..., ou és mesquinho e gostas de desconversar para teres razão... mas não digo que estejas errado, digo que acreditas na tua verdade, e como não me convences, eu fico com a minha...

Sobre a parte em que dizes:
"E, se repararmos bem, a maior parte (ou a melhor parte) das coisas que cada pessoa tem na sua vida, aquilo que mais e melhor a identifica (a sua vida, a sua família, os seus vizinhos, o seu clube, a sua cultura, o seu país, o mundo e o universo, a vida), não foi ela que escolheu."

O meu clube é uma escolha minha, a minha vida também é em grande parte feita das minhas escolhas, a familia não é, mas nem sempre toda a gente tem a melhor das familias, ou achas que a filha que é violada pelo pai, ou o filho que leva porrada todos os dias, têm a melhor das familias?!?
Os vizinhos são os que calham, mas como diz a Iinês num dos posts, a de cima anda de saltos altos desde cedo e o do lado pôe kuduro muito alto, também não acho que sejam os melhores vizinhos, a minha cultura, apartir de certa altura, também começa a ser feita de escolhas minhas, o país de nascença... até isso há pessoas que alteram... no Mundo e Universo, tens toda a razão... ou a ti deram-te a escolher outros??
Por isso, todas as coisas que referiste como a maior parte das coisas que cada pessoa tem na sua vida não são escolhas de cada um... acho que estás errado, a maior parte das que referiste são em parte escolhas, outras não, tens razão, não posso escolher outro Mundo, ou Universo... agora daí dizeres que são as melhores... das duas, uma... ou tens a vida ideal, ou então não conheces melhor...

Sobre a escolha de morrer; numa coisa errei e tu tens razão... uma pessoa em estado vegetativo não pode fazer escolhas, é verdade... agora um tetraplégico pode... e se achas que é de coragem imensa escolher viver o resto da vida em sofrimento, eu acho exactamente o contrário, além de masoquismo, acho também que é cobardia, para mim, coragem imensa é conseguir desprender-se da vida e enfrentar a morte... pouca gente tem medo da vida e vocês quase todos têm medo da morte...
Mas isto é só a minha verdade, cada um têm a sua e alguns têm umas iguais...

Pedro de Payalvo disse...

Olá Iinês, já deves fazer uma ideia de onde descobri o teu blog, há males que vêm por bem...

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